Conversão de São Paulo, Apóstolo

Quem foi Paulo?

Foi Saulo, que, depois tomou o nome de Paulo, nasceu em Tarso, capital da Cilícia.

Da tribo de Benjamim, era judeu e logo recebeu o título de cidadão romano. O seu pai pertencia à seita dos fariseus, ou seja, pertencia ao grupo dos judeus que exerciam a profissão de observar a lei e de seguir a moral mais severa.

                Ele passou os primeiros anos de sua vida em Tarso, estudando as ciências gregas. Com muito amor ao estudo, foi estudar na escola de Gamaliel, em Jerusalém, para aprofundar no conhecimento da lei, buscando colocá-la em prática.

Gamaliel foi um doutor da Lei e ocupava uma posição importante como membro do Sinédrio, como traz o Novo Testamento no livro de Atos dos Apóstolos. O reconhecimento de Gamaliel era tamanho, que foi atribuído a ele o título de “Raban,” que significa “nosso mestre”, um título muito mais elevado que o mais comum: “Rabi”, que significa “meu mestre”.

Quando estudava, Paulo conheceu o Cristianismo, que era tido como uma seita na época. Tornou-se, então, um grande inimigo dessa religião e dos que a seguiam. Tanto que a Palavra de Deus testemunha que, na morte de Santo Estêvão, primeiro mártir da Igreja, ele fez questão de segurar as capas daqueles que o apedrejaram, como uma atitude de aprovação.

Autorizado a buscar e identificar os cristãos, prendia-os a fim de acabar com o Cristianismo. Ele fazia seu trabalho por zelo, mas, de maneira violenta, sem discernimento. Era um fariseu que buscava a verdade, mas fechado à Verdade Encarnada.

                Sua ira contra os cristãos crescia à medida dos bons resultados. Obteve do sumo sacerdote, Caifás, poderes para pesquisar a vida de todos os cristãos e de os castigar. São Paulo entrava nas sinagogas, açoitava aqueles que acreditavam em Jesus e colocava em execução todos os meios para obrigar os cristãos a blasfemarem contra o santo nome de Cristo.

No capítulo 9 dos Atos dos Apóstolos, temos o testemunho: “Enquanto isso, Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes e pediu-lhes cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos, a Jerusalém, todos os homens e mulheres que seguissem essa doutrina. Durante a viagem, estando já em Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’. Saulo então diz: ‘Quem és, Senhor?’. Respondeu Ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão’. Trêmulo e atônito, disse Saulo: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ respondeu-lhe o Senhor: ‘Levanta-te, entra na cidade, aí te será dito o que deves fazer'”.

E aqui começa como se deu o batismo de Saulo, que é apresentado por Ananias, um cristão comum, mas dócil ao Espírito Santo. O Senhor em visão disse a Ananias: “Levanta-te, e vai à rua que se chama Direita, e procura em casa de Judas a um chamado Saulo de Tarso, porque ele está ali orando”.

Procurando Saulo no local indicado, colocou as mãos sobre ele, dizendo: “Saulo, o Senhor Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas me enviou para que recebas a visita e sejas cheio do Espírito Santo”. Saulo levantou-se cheio de alegria. Ananias declarou-lhe o que o Senhor lhe tinha dado a entender a respeito de sua vocação e o batizou.

Existe um segredo na conversão de São Paulo que pode iluminar nossos passos rumo à nova evangelização. Qual é o segredo? Não há dúvidas de que ele era um escolhido por Deus. Sem a intervenção de Cristo, quando ele caiu por terra, não seria possível que ele se levantasse um dia como o apóstolo dos gentios. Foi Cristo a dar o primeiro passo. No entanto, Cristo não força nossa inteligência e muito menos nossa vontade. O amor sem liberdade é escravidão, domínio e manipulação.

Existia em São Paulo uma condição de possibilidade para que Cristo agisse por intermédio do amor. Era necessário um terreno onde a semente da fé pudesse fazer brotar a graça da conversão e da adesão a Cristo. Mas sobre quais bases a graça pousou? A resposta não pode ser outra: sua alma era dominada por uma sede insaciável da verdade. São Paulo era um fariseu zeloso, conhecia de memória a Lei e a Palavra. Na fé judaica, via a verdade que preenchia seu coração, e, por ela, era capaz de tudo.

Contudo, a verdade de Paulo não era plena. Antes da conversão, Saulo “respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor” como diz em Atos dos Apóstolos 9,1. Seu ódio nascia do fato de que seu coração ainda estava insatisfeito; ele sabia que algo faltava. Na fé, São Paulo descobre que a verdade é uma pessoa: Jesus Cristo. É quando sua vida se transforma e ele se converte aos desígnios do Senhor.

É na verdade que o apóstolo desvenda o profundo mistério da alegria e da felicidade plena que os santos da igreja tanto dizem. A fé em Cristo impede que a razão se feche e se reduza apenas a realidades do dia a dia. A fé abre a razão, enquanto a razão purifica a nossa vivência da fé de elementos que manchem o nome de Cristo. Nós podemos com nossa inteligência chegar a uma definição, porém a verdade plena não se reduz a um conceito. Só em Cristo encontramos o Caminho, a Verdade e a Vida.

É justamente no caminho de Damasco que Saulo se encontra com “o Caminho”, é respirando ameaças de morte que ele descobre “a Vida”, é na cegueira da luz terrena que seu espírito se abre à plenitude “da Verdade”.

Sem o terreno fértil da verdade, seria muito difícil que Cristo conquistasse o coração de Saulo. É vendo em Cristo, como a verdade plena, que muitos filósofos se converteram à fé cristã. Da mesma forma, ao buscar a verdade, Santo Agostinho foi conquistado por Cristo. É pela verdade que tantos consagrados e leigos desgastam a própria vida pelo bem da humanidade. A evangelização pela via da verdade é um elemento essencial para a conversão.

A grande crise que sofre a humanidade é uma “crise de verdade”. O relativismo, o materialismo e a busca do prazer são formas de distrair o coração humano de sua sede incansável de infinito. Não podemos permitir que estes obstáculos invadam nossas vidas.

Ao mesmo tempo, devemos ser conscientes de que é nesta cultura que devemos evangelizar. E só por meio da verdade, unida à fé e ao amor, é que poderemos um dia dizer como São Paulo lá na carta aos Gálatas, no capítulo 2, versículo 20: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”.

 

                                                                                                                                                                                                  

Higor Augusto Morais de Andrade
Sacristão - Paróquia Nossa Senhora da Saúde