Vocação Sacerdotal
Entrevistamos o Seminarista Luís Cristóvão, Lambariense, cursante do terceiro ano de Filosofia na Diocese de Itaguaí. Contou-nos sobre seu discernimento, sua vivência e as expectativas para a Vocação Sacerdotal.
- Como ocorreu o discernimento da sua vocação?
R: “Sabes que o teu caminho não é claro. – E que não o é porque, não seguindo Jesus de perto, ficas nas trevas. – Que esperas para decidir-te?” (São Josemaria, Caminho, n° 797). Sempre houve, em meu coração, um desejo ardente de levar o máximo de pessoas ao conhecimento de Cristo. Nosso Senhor, nos evangelhos, manda-nos ir ao encontro de todo o mundo e pregar a sua Boa-Nova. Creio, firmemente, que viver com o sentido de missão é sabermo-nos enviados pelo Senhor para levar o seu Amor àqueles que nos rodeiam. Isso nos faz ter, sob o impulso do Espírito Santo, uma decisão a cada momento, sobre o que fazer, em função dessa missão que dá conteúdo e finalidade à nossa passagem pela terra. Quando paro e contemplo a história da Igreja de Cristo, penso que não podemos ser indiferentes com o que ocorreu com os primeiros cristãos. Já se passaram muitos séculos desde a pregação apostólica e o mais interessante é que, diante de todos os acontecimentos históricos, a chamada do Senhor continua ressoando através dos séculos, no coração de cada pessoa que crê. Isso me fez ficar encantado e inclinado a obedecer à voz do Senhor, que gritou em meu coração, para que tomasse a decisão de deixar tudo por amor a Ele e pela salvação das almas.
- O que ajudou no discernimento e como tem sido a resposta ao chamado de Deus?
R: Algo que muito me auxilia no discernimento é a entrega à vontade de Deus, mesmo que isso possa vir a custar algo que, para mim, seja importante. O começo de uma vocação, como o começo de qualquer outro caminho, traz uma grande dose de incerteza. Mesmo sabendo que é Deus quem permite que sintamos essa inquietação no coração, é natural perguntar: “será que é por aqui?” Por trás disso, está um temor bastante normal. Não sabemos para onde esse caminho nos levará, porque nunca o percorremos antes. Não sabemos o que acontecerá no futuro, por isso a confiança e a entrega ao processo formativo são muito importantes para o bom discernimento vocacional. É isso que Deus espera de mim, nesse momento.
- Qual a sua expectativa a respeito da sua vocação?
R: Bem, não procuro me apressar, porque sei que coisas grandes e belas, como o sacerdócio, exigem o melhor de nós. Mas o interessante é que a razão mais profunda é também a mais misteriosa e simples ao mesmo tempo: Deus é quem veio ao nosso encontro, através de um chamado e nós queremos viver com Ele. Às vezes, nossa fragilidade nos inquieta diante de tão imenso amor, porque achamos que não conseguiremos estar à Sua altura. Mas, uma certeza tenho comigo: geralmente não é Deus quem me assusta, mas eu mesmo. Faço, de vez em quando, a pergunta de São Pedro: “o que será de nós”? E, olhando para o coração, Jesus diz, com uma voz cheia de carinho e alegria, que cada um de nós somos como apostas de Deus, e que Deus nunca perde os seus lances. Nossa vida é cheia de aventura, riscos, limitações, desafios e esforços. É sair do pequeno mundo em que nós estamos no controle e encontrar a beleza de dedicar nossa vida a algo maior do que nós e que preenche a nossa sede de felicidade.
- Uma mensagem final sobre a vocação que abraçou, motivando as pessoas que serão alcançadas
por esse artigo.
R: A mensagem que deixo gira em torno da pergunta daquele catecismo que, em alguns lugares, ainda é usado, louvavelmente, na preparação das crianças para a Primeira Comunhão: “para que Deus fez os homens?” A resposta é simples e fácil de memorizar: “Deus criou os homens para que O amemos e obedeçamos na terra e sejamos felizes com Ele no céu”. O segredo está na obediência ao chamamento que Deus nos faz. Olhemos para a história da Igreja de Nosso Senhor, Deus se serviu de pessoas santas que deixaram um sulco profundo com sua existência; pessoas que marcaram o caminho para a entrega de outros. Temos que permitir que os ensinamentos e o exemplo dos santos sejam nossa inspiração e sacudam-nos, tirando-nos do nosso egoísmo e chamando-nos para uma vida mais plena de amor. Esse chamado faz parte dos planos de Deus, da ação do Espírito Santo que prepara o caminho para nós. Nos tempos em que vivemos, é de grande necessidade sermos atrevidos e convidar uns aos outros a considerarmos seriamente a possibilidade de entregarmos a vida a Deus. Todas as vocações na Igreja Católica, quando encontram uma resposta apaixonada, levam à santidade. A melhor vocação é a sua, seja no matrimônio ou no celibato, e estão, em princípio, ao alcance de todos. A escolha depende da liberdade pessoal: é isto: escolha. Cristo diz-nos: “se alguém quiser me seguir” ... (Mt 16,24); “se queres ser perfeito” ... (Mt 19,21). Dentro do chamado de Deus, a liberdade busca grandes horizontes divinos, de amor. Não devemos temer as consequências dessa entrega total à Vontade de Deus, pois Ele mesmo nos afirma: “... coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). E nunca estaremos sozinhos: “... Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Seminarista: Luiz Cristóvão Magalhães
Terceiro ano de Filosofia. Diocese de Itaguaí.
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Quando se termina a etapa dos estudos no seminário, se vislumbra um novo horizonte: a etapa de síntese missionária que “(...) corresponde ao período que medeia entre a estadia no Seminário e a sucessiva ordenação presbiteral, passando obviamente através da concessão do diaconato” (Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis – O Dom da Vocação Presbiteral, número 74).
Nesse intento, dentro do mês vocacional, relato de modo breve essa síntese ou, como ficou conhecida informalmente a “missão”. No mês de fevereiro deste ano, juntamente com dois colegas, fui enviado para um estágio missionário no Norte de Minas Gerais, na Diocese de Araçuaí, na cidade de Chapada do Norte.
Quando se chega a um lugar começa o período da adaptação. Após vinte horas de viagem de ônibus, partindo de Varginha, chegamos a Araçuaí, onde passamos três dias num encontro da Campanha da Fraternidade. Depois desse encontro fomos para nossa cidade de missão, Chapada do Norte, onde fomos acolhidos pelos Freis Agostinianos, que estão trabalhando desde 2019 na cidade.
Fato é que mais do que ensinar algo, fomos em busca de certezas para nós mesmos. Certezas essas que vieram do povo de Deus que ali mora. Foram três meses e meio de estadia no Norte de Minas. Um povo religioso, piedoso, trabalhador e muito acolhedor.
Percebemos que algumas estruturas sociais ainda carecem muito de atenção. Além dos fatores climáticos que assolam a região do Vale do Jequitinhonha. Sabe-se que a vida no Vale possui, de fato, níveis diferentes de pobreza e isso nos abre os olhos e o coração para não sermos insensíveis apesar da distância. Impossível não se emocionar quando as pessoas falam da migração para conseguir trabalho nas lavouras de café, no corte da cana de açúcar e como ambulantes nas praias. O período de trabalho fora pode passar de dez meses. Longe de suas casas e famílias, uma expressão que Fr. Paulo Gabriel usava me chamava atenção: “viúvas de marido vivo”. Muitas mulheres ficam com os filhos para que o marido saia em busca de melhores condições.
De modo geral a “missão” foi excelente. Alguns questionamentos podem surgir quando se enfrenta uma realidade diversa à nossa. Porém, quando se há certeza da vocação, quando há abertura de coração, propósito de vida, nada que, humanamente seja difícil, não se torne compreensível e realizável.
Escrevendo estas memórias da missão, posso relatar que se aprende a rezar muito com o povo, lições de vida e isso fortalece e chancela a nossa vocação. Porém, não é necessário muitas vezes sair de um lugar físico para outro: a maior missão é sair de si mesmo, dos nossos conceitos e pré-conceitos.
A dificuldade que vimos pode se assemelhar, em alguns pontos, a daqui do Sul de Minas. Porém, cada lugar guarda suas preciosidades, sabe enfrentar suas dificuldades, limitações. Tudo isso com um sorriso no rosto e uma fé inquebrantável. Assim é o povo de Deus! Assim devem ser seus pastores: aprendizes de pequenas gentilezas, aprendizes do povo que guiam!
Deus seja louvado pela missão!
Deus seja louvado pelo povo que nos recebeu!
Deus seja louvado por não nos fecharmos em nós mesmos!
Queremos ser pastores do e para o povo!
Ser pastor é, muitas vezes, ir à frente para guiar com certeza. Ir no meio do povo para o encorajar. Ir atrás para empurrar e dar ânimo. Mas nunca acima, com ar de superioridade, de soberba e prepotência. Deus nos livre dessas ideias erradas de pastor! Deve-se buscar ser pastor com cheiro das ovelhas, como pediu, ainda no início do pontificado, o Papa Francisco.
Não posso escrever tudo o que ocorreu! Mas, todos os envolvidos na missão, desde o bispo, passando pelos freis agostinianos, chegando ao maravilhoso povo de Chapada do Norte, só posso escrever que a gratidão e a saudade acompanharão o ministério que vislumbro!
Quem acredita e quem ama a Deus, consegue ver no próximo, seja de longe ou de perto, a sua beleza estampada nos rostos, nas palavras e nos gestos.
Estagiário Bruno Augusto Morais Xavier
Paróquia Nossa Senhora das Dores – Boa Esperança – MG