Celebramos, sempre no início de novembro, a Solenidade de Todos os Santos, que nos recorda a vocação fundamental à santidade, à qual são chamados todos os batizados. Mas como corresponder a esse apelo de Deus, diante de tantos desafios em nossa vida? O Papa Francisco, com a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai), chama-nos a refletir a respeito da santidade nos dias de hoje, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades, sobretudo a partir das Bem-Aventuranças, que são um caminho seguro de santificação.
O Papa Francisco destaca o papel dos que já alcançaram a santidade e assim foram reconhecidos pela Igreja, e que por sua intercessão e exemplo nos ajudam em nossa caminhada de fé. Mas nos recorda também que muitos santos não estão nos altares: mesmo no escondimento de uma vida comum, participam da glória de Deus. São os “santos aos pés da porta”, que muitas vezes temos a graça de conhecer, e que nos inspiram a viver a santidade não como algo apenas extraordinário, mas sim como uma verdadeira experiência que brota do cotidiano.
Nessa exortação apostólica, o Papa Francisco também chama a atenção para duas tentações muito presentes nessa época em que vivemos e que nos desviam do verdadeiro seguimento de Cristo, único caminho de santidade! A primeira é a tentação do gnosticismo, uma antiga heresia ligada à autossuficiência humana, ou, em outra palavras, a ideia de que a nossa salvação é fruto apenas da busca de uma forma especial de conhecimento imanente que, no fundo, só nos leva a centrar-nos em nós mesmos. A segunda tentação é uma nova forma de pelagianismo, outra ideia herética que atribui a salvação humana somente à própria vontade do sujeito, esquecendo que é Deus quem nos salva, não sou eu que me salvo! Na busca da santidade, não podemos nos fechar em nós mesmos, naquilo que o Papa chama de “autorreferencialidade”, mas devemos nos abrir à comunhão plena com Deus, a partir do amor fraterno vivido concretamente na comunhão com os irmãos e irmãs.
Procurar conhecer a Deus, sim! Buscar uma firme determinação da vontade, sempre! Mas a santidade não se trata apenas de um conhecimento extraordinário ou da imposição de um querer pessoal, porque é, acima de tudo, um dom de Deus, uma graça que nos é concedida na medida em que vamos nos abrindo à ação do Espírito Santo, que vai nos conformando, em cada momento, ao Evangelho de Jesus Cristo. Diante de tantas incertezas, devemos nos firmar na fé, conscientes de que não existem respostas prontas nem fórmulas perfeitas, mas temos muito a aprender com o caminho de santidade trilhado por tantos homens e mulheres que nos precederam na glória eterna!
Pe. Edson Cassiano Lopes
Vigário na Paróquia São Francisco de Assis | Guapé, MG