A vida humana é marcada pelo tempo e por ciclos que constituem a história de cada pessoa e do mundo. Por isso, a virada de um ano civil não significa apenas a mudança de um número no calendário, mas, porque somos humanos, ganha uma dimensão especial de revisão de vida e de esperança. À luz da fé, podemos dizer que é uma oportunidade de nos reconhecermos sujeitos às limitações do tempo, mas também abertos a algo mais, que nos conduz para a eternidade de Deus.
Sabemos que o ano litúrgico e o ano civil são diferentes. Na liturgia, o “ano novo” começa sempre com o primeiro domingo do advento; no calendário, o ano novo começa no dia primeiro de janeiro. Apesar dessa diferença, a proposta da liturgia para a celebração do início do ano civil ajuda-nos a iluminar com a fé a dinâmica do tempo em que estamos inseridos.
Primeiro de janeiro é o último dia da oitava do natal, os oito dias em que celebramos solenemente o mistério da encarnação. Nesse dia, recordamos a Virgem Maria como Mãe de Deus, título mariano correspondente ao dogma que nos ensina ser Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Além de afirmar o lugar especial de Nossa Senhora no plano da salvação, essa data nos recorda a identidade do próprio Jesus, que se fez semelhante a nós para, na unidade com o Pai, ser o nosso salvador.
Além disso, o primeiro dia do ano é o dia mundial da paz, data comemorativa criada pelo papa São Paulo VI e celebrada desde 1968, com o objetivo de recordar aos católicos e à humanidade inteira a necessidade do empenho pela paz entre as pessoas e entre os povos.
Desse modo, iniciamos o ano recordando a centralidade de Jesus Cristo na vida dos homens e na história. É ele, o Verbo Encarnado, o Alfa e o Ômega, o Senhor do tempo e da eternidade. Na comunhão com Ele, com o Pai e com o Espírito Santo, compreendemos que a vida não é só uma passagem de horas ou de dias, mas tem um sentido muito maior, que transcende o tempo e se esclarece no mistério do próprio Deus Uno e Trino.
Ademais, o ano se inicia sob a proteção da Virgem Maria, que, como mãe de Deus e nossa mãe, nunca cessa de interceder por nós e de nos dar o verdadeiro exemplo de como seguir os passos do seu Filho, amá-lo e servi-lo. Com efeito, a cada dia podemos ter a certeza de que não estamos sós na caminhada cristã, mas que contamos com o auxílio terno daquela que é modelo para a Igreja e que, junto de Deus, olha por nós.
Por fim, o ano se inicia com o apelo à vivência da paz. Para nós, cristãos, a paz começa na comunhão com Deus e se concretiza no convívio fraterno com todas as pessoas. O nosso dia-a-dia deve, pois, ser caracterizado pela reconciliação, pelo perdão, pela concórdia e pela unidade. Não podemos nos esquecer que só nesse relacionamento ordenado com Deus e com os irmãos somos capazes de viver bem, conforme a vontade divina.
Na verdade, o tempo e a história são frutos da criação divina e foram santificados pela encarnação de Jesus Cristo. Por isso, como pessoas de fé, não podemos existir como se a existência fosse obra do acaso ou sujeita ao destino, mas precisamos reconhecer que é a providência de Deus que guia todas as coisas e que conduz a nossa vida a uma plenitude.
Iniciando mais um ano, devemos, portanto, reafirmar a nossa fé em um Deus amoroso, que não está distante de nós, que é o Senhor de tudo, que nos entregou a Virgem Maria como mãe, que nos convida à reconciliação e à paz e que nos dá a sua graça, a fim de que experimentemos, já neste mundo, embora sujeitos ao tempo, um pouco daquilo que viveremos plenamente no céu.
Que, pela intercessão de Nossa Senhora, o Senhor Deus nos abençoe e nos guarde no ano de 2024, guiando nossos passos e fortalecendo-nos na fé!
Seminarista Gabriel Henrique da Silva
Paróquia Nossa Senhora da Saúde