São Miguel Arcanjo é o símbolo do triunfo do bem sobre o mal, e foi ele quem trouxe a primeira vitória ao Reino de Deus ao derrotar Satanás, motivo pelo qual é considerado o anjo mais importante do céu.
Os anjos foram criados por Deus com uma natureza espiritual elevada e exercem diversos tipos de atribuições, sendo a principal e mais conhecida o exercício da proteção, da intercessão e da guarda.
Nesse sentido, ensina-nos São Tomás de Aquino: “A cada homem é delegado um anjo para sua guarda. E a razão disso é que a guarda dos anjos é obra da providência divina para com os homens”.
Os anjos não são criaturas indefesas, frágeis, de beleza extraordinária que utilizam um arco e uma flecha como retratam muitos contos infantis. Pelo contrário, eles pertencem ao plano espiritual, isto é, pertencem ao conjunto de coisas invisíveis mencionadas na Profissão de Fé que muitos católicos ao redor do mundo recitam durante as missas juntamente com o padre.
No mundo celestial, há uma hierarquia que ordena suas funções e propriedades dentro da esfera angelical, norteando o serviço prestado a Deus e para o homem. A configuração é feita como um exército organizado em nove coros, sob ordens de um comandante, abrangendo desde as criaturas celestes mais próximas de Deus às mais próximas dos homens, tendo a seguinte disposição: grau de superioridade (serafins, querubins, tronos), grau intermediário (dominações, virtudes, potestades), grau inferior (principados, arcanjos e anjos).
Em sua categoria, os arcanjos ocupam a posição central, razão pela qual recebem o que é concedido de seus superiores, os principados e os transmitem aos anjos e, através dessa mediação celestial, que a iluminação divina chega até os homens.
Com o escopo de compreender a relevância de São Miguel Arcanjo, faz-se necessário observar as suas menções na Bíblia, considerando que é mencionado três vezes no Antigo Testamento e duas vezes no Novo Testamento. Em Daniel, São Miguel exerce a tarefa de combater em favor do profeta e do povo (Dn 10, 13, 10, 21 e 12,1); em Judas 1,9, o arcanjo disputa o corpo de Moisés com o diabo e no Livro do Apocalipse 12,7-8, é narrada a expulsão do grande dragão com um terço dos arcanjos do céu, configurando, dessa maneira, a queda do inimigo infernal.
Alguns estudiosos acreditam que a passagem bíblica de Josué 5,13-15, ao encontrar O Anjo do Senhor – príncipe ou chefe dos exércitos do Senhor, uma criatura celestial que empunha uma espada - refere-se a São Miguel Arcanjo.
Na batalha nos céus, São Miguel Arcanjo luta contra o dragão, ou seja, contra Lúcifer, o querubim que era muito amado por seu Criador, mas que um dia se rebelou por não aceitar o Deus-Homem como Rei (encarnação e adoração), a mulher como Rainha por soberba e sendo ambicioso ao ponto de desejar tomar o trono divino.
Nesse contexto, apresenta-se o nome do arcanjo: Miguel vem do hebraico Mikhael, que significa “Quem como Deus?” o que define perfeitamente a batalha do bem contra o mal e a luta do anjo ao defender o céu.
A coragem de São Miguel por combater um querubim (criatura celeste superior) demonstrou seu amor, sua admiração e seu respeito a Deus, bem como a sua força e o seu conhecimento para expulsar o espírito infernal para sempre.
Diante de sua luta contra o mal, o arcanjo recebeu outras atribuições durante os tempos, como, por exemplo, ele tocará a trombeta no último momento, ele apresentará a cruz, os pregos, a lança e a coroa de espinhos no dia do juízo.
No século IX, o caráter exorcístico do arcanjo foi enfatizado, uma vez que os fiéis confiaram a ele a sua defesa contra as investidas das trevas, assim como também a sua salvação no dia do juízo final como psicopompo (condutor das almas após a morte).
Além disso, São Miguel foi cultuado como protetor das águas curativas na gruta que leva o seu nome, sendo amplamente conhecido como taumaturgo (poder de realizar milagres) por aqueles que ingeriram as águas para obterem a cura de algum mal.
A obra The Life and prayers os St. Michael outorga a São Miguel o ofício de defensor do Santíssimo Sacramento e dos altares do mundo todo durante a santa missa, momento em que as criaturas celestes são partícipes na Santa Eucaristia.
São Miguel também figura como protetor de diversos profissionais que estão em combate, a título de exemplo, policiais, bombeiros, soldados etc.
A relevância de São Miguel Arcanjo é tão notável e impressionante que foi retratado por inúmeros artistas, e sua imagem foi exposta por muitos museus do mundo, incluindo o Louvre com a obra “São Miguel derrota Satanás” (século XVI) de Raffaello Sanzio.
A imagem criada de São Miguel retrata uma criatura pertencente ao plano celestial (invisível) assumindo certo corpo para realizar tarefas no mundo material. As características que englobam a aparência do arcanjo, seja através de pinturas, seja através de imagens religiosas dentro das igrejas católicas, reforçam os tópicas anteriormente abordados, seja pelas asas que caracterizam o seu poder em relação aos humanos; seja pela armadura medieval para simbolizar a honra, força, proteção; a espada representando a autoridade, a justiça, a sabedoria e o conhecimento; a corrente apresentada na obra de Guido Reni simbolizando a escravidão, o cativeiro, o cárcere e o aprisionamento de Lúcifer à condenação eterna e a vitória do bem sobre o mal.
Desse modo, a oração de São Miguel Arcanjo exemplifica as inúmeras tarefas destinadas a ele:
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe, Deus, instantaneamente lhe pedimos, e a vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém!
Ante o exposto, é possível compreender que foram estabelecidas muitas atribuições de proteção, graça, cura, caráter exorcístico e milagres a São Miguel Arcanjo, independentemente de pertencer à categoria inferior dentro da hierarquia dos seres celestes, pois exaltou o Senhor ao defender o trono do Altíssimo, destruiu a soberba de Lúcifer e exortou as demais criaturas celestes a amar o mistério da encarnação. Afinal, quem como Deus?
Gabriela Ayres de Castro Mayer
Ministério Extraordinário dos Acólitos
Ofício do Canto Litúrgico