A tradição cristã nos apresenta a figura comovente de Santa Verônica, uma mulher piedosa que, ao encontrar Jesus no caminho do Calvário, tomou um pano — geralmente descrito como um véu — e, num gesto de profunda compaixão, enxugou o rosto do Senhor coberto de suor e sangue. Esse pano, que segundo os relatos conservou milagrosamente a imagem do rosto de Cristo, tornou-se conhecido como “Santa Face” ou “Véu de Verônica”, e é considerado uma das relíquias mais preciosas da fé cristã.
O nome “Verônica” teria surgido pela primeira vez nos textos apócrifos conhecidos como “As Atas de Pilatos”. Curiosamente, seu nome é interpretado por alguns estudiosos como vindo do latim vera icon, que significa “verdadeira imagem” — referência direta ao rosto de Jesus impresso no tecido. Outros ligam Verônica ao nome Berenice, de origem macedônia, que significa “portadora da vitória” e é associado à mulher mencionada nos evangelhos sinóticos que foi curada por Jesus após tocar sua veste.
Segundo a tradição, Verônica viveu em Jerusalém e, depois da morte de Cristo, teria ido até Roma levando consigo o véu milagroso. Lá, teria apresentado a imagem sagrada ao imperador Tibério, que, ao tocá-la, teria sido curado de uma enfermidade. Verônica teria permanecido em Roma junto aos apóstolos Pedro e Paulo e, ao morrer, teria deixado a relíquia sob os cuidados do papa Clemente I.
O véu passou a ser venerado publicamente e tornou-se uma das relíquias mais buscadas pelos fiéis durante o primeiro Ano Santo da Igreja, em 1300. Era considerado uma das grandes “maravilhas de Roma” pelos peregrinos que visitavam a Basílica de São Pedro no Vaticano. Entretanto, ao longo do tempo, sua localização foi perdida até que, séculos depois, uma imagem que muitos acreditam ser o mesmo Véu de Verônica foi redescoberta na Igreja da Santa Face, em Manoppello, na Itália. Em 2016, o Papa Bento XVI foi o primeiro pontífice a visitar o local e venerar essa relíquia.
Hoje, a memória do ato de Verônica é celebrada na sexta estação da Via Sacra, lembrando-nos de que a Paixão de Cristo continua a se manifestar no sofrimento do mundo. A Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a viver essa Paixão ao longo da história — e cada fiel é convidado a enxugar o rosto de Jesus presente nas dores da humanidade. Assim como Verônica, São Josemaria Escrivá, São João Maria Vianney e tantos outros santos deram esse testemunho ao longo dos séculos, somos chamados a fazer o mesmo, com fé, paciência e amor.
Que nossas almas, então, sejam como aquele véu: sensíveis, puras e dispostas a tocar as dores do Cristo que sofre nos irmãos. Que nelas fique gravada a imagem do Senhor, para que também nós sejamos, neste mundo, verdadeiros ícones vivos de sua presença. Afinal, “a prova da vossa fé produz a paciência [...] a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma” (Tg 1, 3).
Breve testemunho
Acredita-se que Verônica tenha sido uma mulher piedosa de Jerusalém que, ao ver Jesus carregando a cruz para a gólgota, foi comovida e ofereceu seu véu para que Ele pudesse enxugar o rosto.
E eu me sinto honrada de poder fazer esta cena há mais de 30 anos: O canto de Verônica -
"Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei.
Atendei e vede se há dor igual à minha dor."
Marlene Costa Coutinho
Membro do Coro Paroquial - Paróquia Nossa Senhora da Saúde